martes, 20 de octubre de 2015

EXPIAÇÃO



Nunca me respondeste, quando te chamei,
E só Deus sabe como era urgente e aflita
A minha voz!
Mas, desgraçadamente sós,
Morrem os que se afogam
No mar da sua própria condição.
O meu, sem margens, é um descampado
Desabrigado.
Vagas e vagas de solidão,
E a tua imagem, litoral sonhado,
Sempre evocada em vão.
Nunca me respondeste, e foi melhor assim.
Um náufrago perpétuo é um pesadelo.
Dizer-me o quê?
Que, de longe, me vias afogar,
Mas que nada podias.
Pois sabias
Que os poetas jurados,
Humanas heresias,
Nascem condenados
A morrer afogados
Todos os dias
No tormentoso mar dos seus pecados.

Expiación

Nunca me respondiste, cuando te llamé,
¡Y sólo Dios sabe cuan urgente y desesperada era
Mi voz!
Pero, desgraciadamente solos,
Mueren los que se ahogan
En el mar de su propia condición.
El mío, sin márgenes, es un descampado
Desabrigado.
Oleadas y oleadas de soledad,
Y tu imagen, litoral soñado,
Siempre evocado en vano.
Nunca me respondiste, y fue mejor así.
Un náufrago perpetuo y un pasajero.
¿Decirme, qué?
Que, de lejos, me veías ahogar,
Pero que nada podías.
Pues sabías
Que los poetas jurados,
Humanas herejías,
Nacen condenados
A morir ahogados
Todos los días
En el tormentoso mar de su pecados.

Miguel Torga,  
nasceu em 1907 em S.w Martinho de Anta, concelho de Sabrosa Trás os Montes, aldeia onde cresceu e que o havia de marcar para toda a vida. De Nome Adolfo Correia da Rocha, adotou o pseudônimo de Miguel Torga (torga é o nome dado à urze campestre que sobrevive nas fragas das montanhas, com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas).


No hay comentarios:

Publicar un comentario